Entrei em contato com o pôquer pela primeira vez há uns dez anos. Eu tinha 18, acabara de me formar no colégio, em Brasília, e um pessoal que estudava comigo começou a organizar umas partidas. Eu não entendia nada de pôquer. Na minha cabeça, era só jogo com um monte de caras sentados em volta de uma mesa redonda fumando charuto.
Um tio meu, que jogava com amigos e gente da família, começou a me explicar como tudo funcionava e percebi que se tratava de um mecanismo de estratégia, a coisa exigia estudo, aprendizado. Nunca gostei de baralho. Odiava ter de jogar truco nos churrascos dos amigos, mas o pôquer me fisgou.
Minha atividade, na época, era o caratê. Comecei a lutar aos 3 anos, cheguei à seleção brasileira aos 17. Por causa dessa ligação com o esporte, meu desejo era cursar faculdade de educação física, mas não havia esse curso na escola que me oferecia a bolsa de estudos. Como Brasília, onde nasci, é uma cidade em que há muito concurso público, eu decidi pelo Direito. Como eu ainda vivia com os meus pais, conseguia me virar com dinheiro que vinha das lutas, com patrocínio, Bolsa Atleta (programa do governo federal) e bolsa na faculdade.
Depois que aprendi a jogar pôquer, no entanto, nunca mais parei. Aos poucos, comecei a me arriscar mais e a ganhar dos amigos. Eu jogava de seis a sete horas por dia e ainda tinha de treinar luta e estudar. A faculdade caiu para o último lugar no plano das prioridades. O caratê ainda liderava a lista, mas fui perdendo o foco. O pôquer já me dava duas vezes mais dinheiro do que eu ganhava com o esporte, mesmo estando no auge.
Como eu não dedicava mais tanto tempo e energia ao caratê, minha performance caiu e deixei de ser tão competitivo. Tive de sair. Foi um movimento bem natural. Aos 23 anos, o pôquer era minha prioridade. Meus pais percebiam que eu estava andando com as próprias pernas, então não questionaram o fato de eu deixar a faculdade de direito.
Enquanto estudava o jogo, passei a ensiná-lo também para alguns amigos. Eles viam que eu estava me dando bem e queriam seguir o mesmo caminho. O que começou de graça acabou como uma boa alternativa para ganhar dinheiro. Anunciei as aulas e os clientes apareceram. No Brasil, há muitos instrutores e escolas de pôquer, e alguns deles não são bons, mas sabem se vender, com uma estratégia de marketing agressiva. Como eu já era respeitado na comunidade, decidi ajudar a combater essa prática: juntei os melhores jogadores do país e fiz a proposta de apresentarmos conteúdo de qualidade, mostrando o que o pôquer é de verdade. Eles abraçaram a ideia.
"Enquanto estudava o jogo, passei a ensiná-lo também para alguns amigos. O que começou de graça acabou como uma boa alternativa para ganhar dinheiro"
A escola, Sensei Pôquer, é toda on-line, como se fosse uma biblioteca. Temos cerca de 300 vídeos com aulas, do nível básico ao avançado, de dezesseis instrutores diferentes. Adicionamos vinte novos vídeos a cada mês. O plano básico custa 90 reais por mês, e o avançado, 250 reais. Comecei a empreitada em outubro de 2015, com um aporte de cerca de 70 000 reais. Foi um sucesso absoluto, e crescemos a cada ano. Nem a crise de 2016 afetou tanto o pôquer, mas demos uma estabilizada. Abrimos com oitenta assinantes pagos e hoje oscilamos entre 200 e 250. No fórum, onde as pessoas podem entrar de graça e discutir estratégias, passamos de 1.200 para 5.000 inscritos A escola é uma das minhas fontes de renda, mas não a principal [faturamento de cerca de 50 000 reais por mês].
Agora queremos transformar a escola em universidade. Há cada vez mais jovens interessados nesse esporte. O Neymar, por exemplo, está falando de pôquer a toda hora. Gosto de diversificar meus investimentos, empreender. Estou pensando em abrir um estúdio de pilates e invisto em uma empresa de fantasy de futebol, a Rei da Rodada. O pôquer me deu uma boa noção de como administrar e investir meu dinheiro, e gosto muito de fazer isso. Hoje, jogo de três a quatro horas por dia. Gasto o restante do tempo cuidando das minhas empresas, preparando videoaulas, estudando. É um estilo de vida. Vivo pôquer 24 horas por dia.
Depoimento colhido por Mariana Lajolo
Foto : Arquivo pessoal