PRIMEIRA PESSOA

Eu me formei engenheiro no MIT com 100% de bolsa

Filho de brasileiros nos Estados Unidos, Maxwell Freitas, 22, foi selecionado por seis universidades, incluindo Harvard

query_builder 17 de junho 2019, 21h30

Eu nasci em Cambridge, nos Estados Unidos, dois meses depois de meus pais entrarem no país com visto de missionários religiosos, na época válido por quatro anos. Nós somos de origem simples, viemos de Governador Valadares, em Minas Gerais, e meus pais sempre sonharam em viver nos Estados Unidos para oferecer uma vida melhor aos filhos. Embora eu tenha nascido aqui, fui registrado também como brasileiro. Tenho as duas nacionalidades e aprendi português.

Sem falar a língua inglesa e sem formação, meus pais tiveram muitas dificuldades para encontrar um bom emprego. Então, enquanto minha mãe cuidava de mim e do meu irmão mais velho, Mitchell, meu pai fazia bicos em empregos da construção civil. Era preciso dobrar o turno, trabalhar dia e noite.

Quando eu tinha 3 anos, minha mãe passou por uma crise de ansiedade e quis voltar para o Brasil, pois não aguentava viver naquelas condições, sem emprego formal e sem entender o idioma. Voltamos para Valadares e ficamos por lá apenas seis meses. Ela se deu conta de que viver no Brasil estava ainda mais difícil, por isso voltamos para os Estados Unidos. Ainda assim, o dinheiro do meu pai não era suficiente para nos sustentar, então minha mãe virou faxineira para complementar a renda.

Na escola sempre fui muito dedicado. O nosso sistema de avaliação era por notas – A, B, C, D –, e sempre que eu tirava uma nota baixa meu pai me incentivava a estudar mais. Dizia que eu era capaz e que ia melhorar. Lembro de quando compramos nossa primeira casa. Ela estava bem ruim por dentro e precisava ser reformada. Mas não tínhamos dinheiro para contratar alguém para fazer isso. A solução foi meu pai trabalhar o dia todo e, quando chegava, pegar no batente de novo para reformá-la. São esses detalhes que me mostram quanto de sangue, suor e lágrimas eles derramaram para poder oferecer o melhor para nós.

Cresci dedicando minha vida aos estudos e aos serviços comunitários na igreja [Assembleia de Deus]. Em Boston, tive o privilégio de ter ao lado de casa universidades que serviram de inspiração. Aos 8 anos fiz uma foto em frente ao Massachusetts Institute of Technology, o MIT, e dizia que um dia estudaria lá. Coisa de criança, mas concentrei meus esforços nisso e tracei um objetivo: entrar na universidade e me formar para devolver aos meus pais tudo o que eles nos deram.

"Aos 8 anos fiz uma foto em frente ao MIT e disse que estudaria lá. Concentrei meus esforços nisso e tracei um objetivo: entrar na universidade e devolver aos meus pais tudo o que eles nos deram."

Diferente do Brasil, nos Estados Unidos não existe um vestibular para a pessoa entrar na universidade. Os candidatos se inscrevem e apresentam dados como o resultado de um teste chamado SAT [Scholastic Assessment Test], que determina o nível de inteligência do aluno. A pontuação vai de zero a 2.400, e eu fiz 1.980 pontos. Além disso, eles avaliam o GPA [Grade Point Average], que é a média das notas, fornecendo uma pontuação que vai de zero a 5. Tirei 4,8. Também fiz uma redação com o tema “Experiências que marcaram minha vida”.

Eu me submeti a testes para oito universidades e fui chamado em seis delas – incluindo Harvard e MIT. Quando recebi o e-mail informando que eu estava aprovado, comecei a gritar, a chorar de alegria. Mas havia a questão do custo. A anuidade do MIT era de 70.000 dólares [cerca de 280.000 reais], e meus pais não teriam condições de pagar.

Então, me inscrevi em um programa chamado First Generation – que beneficia estudantes de baixa renda, cujos pais não puderam estudar. Os selecionados, quando se formam, são a primeira geração da família que foi para a universidade. Concorri a esse benefício no MIT e conquistei uma bolsa de estudo de 100% – incluindo mensalidade, alimentação e moradia.

Mesmo morando a dez minutos do MIT, me mudei para o campus para viver intensamente esse período de estudos. As aulas ocupavam o dia inteiro e havia muita competitividade. O nível de estresse era altíssimo, especialmente porque eu ainda trabalhava na universidade para obter uma renda extra. No segundo ano, “tomei bomba” na disciplina de termodinâmica e fiquei desencorajado a continuar. Estava difícil demais, pensei que não conseguiria ser engenheiro. Mas recuperei as forças e voltei a estudar.

Durante o curso tive contato com uma disciplina de biologia pela qual me apaixonei. Foram quatro anos de dedicação extrema. A minha formatura aconteceu no dia 7 de junho deste ano. Enquanto estava na fila esperando que chamassem o meu nome para receber o diploma, eu só conseguia agradecer. Quando ouvi o meu nome, senti um misto de emoção com alívio. Eu me formei bioengenheiro. Missão cumprida. Desde novembro do ano passado, já fui chamado por uma consultoria que atua na área de biotecnologia e indústria farmacêutica. O trabalho começa em setembro. Daqui para a frente é trabalhar e ajudar os meus pais, pois tudo o que sou devo a eles.

Depoimento dado a Fernanda Bassette
Foto: Arquivo pessoal