PRIMEIRA PESSOA

Minhas amigas me humilhavam

Pernambucana de 15 anos foi destaque no Carnaval com Gêmeas Lacração e funk 'Envolvimento'

query_builder 26 fev 2018, 18h45

Minha mãe e meu pai não eram de ter muito dinheiro, mas dava para se viver. Tudo o que eu pedia, eles me davam. Sempre arrumavam uma solução. Hoje, ele está desempregado, e ela é operadora de caixa. Sonho em dar muita felicidade a eles, garantir que nunca falte nada aos dois. Ainda não estou rica – quer dizer, de saúde eu estou.

Tenho de medo de ser uma artista de uma música só. Muita gente diz que o meu sucesso acabou com o Carnaval. Mas as Gêmeas Lacração, como eu, como a nossa produtora (ela trabalha com a Start Music), lutam para que não seja apenas isso.

Eu nunca tinha ido ao McDonalds. A primeira vez foi há uns dias. Não porque a minha mãe não tinha condição, e sim porque, quando me dava dinheiro, eu não tinha ninguém para me acompanhar. Acabava com um amigo meu numa barraquinha de pastel.

Eu estudava em um colégio particular em Jaboatão dos Guararapes (PE) e fiz amizade com umas meninas de lá. Mas, antigamente, não me arrumava muito. Nem ligava para isso. Eu ainda não ligo, né? Só que elas me botavam para baixo, me humilhavam: "Como tu tá feia". Me chamavam de "mulher homem", diziam que eu não tomava banho. Eu sofria bullying.

Isso acontecia principalmente quando eu deixava de dividir alguma coisa. Eu estava com um lanche na escola e uma menina fingia ser minha amiga para pedir uma parte. Se não desse, ela me atacava, dizia várias coisas. Eu não me considerava diferente das outras pessoas, eu me achava normal, feito qualquer um.

Chegava tempo que eu não queria ir para escola, ficava em casa. Pedia para minha mãe não me levar e chorava. Quando eu chegava ao colégio, não entrava, voltava, dizia que não tinha aula. Eu saí dessa escola e fui estudar em uma do governo, perto de casa. Daí, melhorou um pouquinho.

Depois do sucesso no Carnaval, algumas dessas pessoas me mandaram mensagem: "Oi, Paloma, saudades". Eu tratei superbem. Se uma pessoa me trata mal, não vou tratá-la do mesmo jeito, porque lá na frente posso me prejudicar. Vou tratar mil vezes melhor.

Não olho as críticas dos haters. Às vezes machucam. Teve uma menina que me chamou de macaca no Twitter. Quem respondeu foi um fake meu.

Nunca namorei. Agora tem menino que vem falar comigo no Instagram, mas nem dou bola. Deixa para lá. Não estou nem na idade de namorar ainda. Só quando tiver cabeça para isso. As pessoas falam, mas as nossas músicas não têm esse sentido sexual que dizem. É tudo passo de dança, só isso.

Meu foco agora está nisso tudo que está acontecendo, na minha mãe, no meu pai, na minha escola, na minha faculdade, que eu vou fazer, de filosofia ou psicologia. Acho que dá para conciliar com a carreira de cantora. Feito minha mãe e meu pai falam: "Nunca esqueça dos estudos". Do mesmo jeito que eu tenho tempo para estar aqui, fazendo esses trabalhos todinhos, tenho tempo para estudar.

Eu não sei como vai ser na escola agora. Acho que muitas pessoas vão querer ser minhas amigas. Mas sei quem sempre esteve comigo. Não vai ser agora que vai mudar isso. Tenho colega, tenho conhecido, tenho tudo. Mas minhas amigas são a minha mãe e as meninas (Mirella e Mariely Santos, as Gêmeas Lacração), que estão comigo desde sempre.

Desde pequenas que eu conheço as gêmeas. Só que não gostava delas, não. Elas eram superchatas, porque, tudo o que eu fazia, elas diziam à minha mãe. No final de 2016 meu irmão fez aniversário e minha mãe organizou uma festinha surpresa para ele. Elas apareceram e me chamaram para ficar com elas. Assim, a gente começou a pegar intimidade.

Elas deixam a minha autoestima lá em cima. Antigamente, quando me arrumavam, eu tinha muita vergonha de sair. Agora, não tenho vergonha de nada. E elas sempre estão comigo, esteja eu feliz ou triste. Me tratam como irmã. Me sinto segura com elas. Tudo o que eu faço é porque sei que estou perto delas e acho que passo segurança para elas também. Vamos ser as três para sempre. Se não formos as três, não tem caminho.

Depoimento colhido por Leandro Nomura
Foto Felipe Cotrim/VEJA.com