Sem brincadeira nem ironia, este é um apelo às pessoas – especialmente lideranças políticas e sociais – que se aliaram à campanha de Jair Bolsonaro e ajudaram a conduzi-lo à Presidência da República. É lugar-comum dizer que, terminada a eleição, chegou a hora de esfriar os ânimos, pacificar o país e olhar para o futuro, visando um governo pelo bem de todos brasileiros e brasileiras. Em suas entrevistas pós-eleição, Bolsonaro já afirmou e reafirmou seu compromisso com a Constituição e com o império da lei, independentemente de cor política, ideologia ou qualquer outro atributo pessoal. Mesmo não sendo nada além do que se poderia esperar do futuro presidente de nosso país, essa é uma posição muito bem-vinda, tendo em conta os discursos e atitudes que pavimentaram seu caminho até o triunfo eleitoral. No Brasil de hoje, isso, porém, não basta.
O que elegeu Bolsonaro não foram programas de TV ou entrevistas bem-comportadas, mas sim, como todos sabem, as redes sociais, onde fervilham as vozes de seus milhões de seguidores, dos mais variados matizes. Entre eles, com especial estridência e visibilidade, grupos abertamente homofóbicos, intolerantes e avessos a qualquer contradição ou diversidade. Mais que isso, portadores de um discurso violento que, legitimado pela eleição de seu líder, já transborda pelo mundo real sob a forma de ameaças, intimidações e, inclusive, atos violentos. Não é preciso dizer que essa situação inflama e alimenta reação igual em sentido contrário, ensejando a violência também de grupos do lado que perdeu nas urnas. Tanto faz quem atirou a primeira pedra: o que importa agora é baixar as armas, antes que comecemos a contar vítimas à esquerda, à direita e, principalmente, ao centro, onde está a maioria que deseja tão somente um país livre e democrático.
Ato a favor de Jair Bolsonaro (PSL) na Avenida Paulista, em São Paulo (Kevin David /A7 Press/Folhapress)
O problema imediato não é só o Bolsonaro institucional, que monta seu ministério, articula com políticos e fala com a grande imprensa. Ainda mais grave, hoje, é o incêndio que continua a grassar nos porões das redes sociais. E só quem pode agora tentar controlá-lo é Capitão Bolsonaro, o mito das redes, que ateou fogo aos instintos primários de brucutus e fundamentalistas que ameaçam não as instituições, mas seus vizinhos, colegas, professores e incautos transeuntes que por algum motivo lhes pareçam portadores de inaceitáveis diferenças.
Não foram poucos os que apoiaram Bolsonaro acreditando que esses grupos são minoritários, e que mais latem do que mordem. Pessoas que sinceramente acreditam na democracia mas que – enojadas pelos reais ou supostos malfeitos do PT, cansadas dos políticos de plantão ou apenas mais afeitas ao discurso da ordem – deram ao presidente eleito seu voto de confiança.
É a vocês, democratas pró-Bolsonaro, que se dirige este chamado: apareçam! Unam-se! Articulem-se! São vocês que precisam – aqui e agora – chamar à razão o líder que elegeram, cobrando dele e de seu Estado-Maior uma ação imediata e vigorosa para desencorajar e reprimir abusos de seus seguidores. E que façam isso não só na superfície da mídia tradicional, mas também nas torrentes das redes sociais, onde se formou e habita o mito que elegeram.