Arthur Virgílio Neto, 71 anos, é prefeito de Manaus e está em seu terceiro mandato à frente da capital amazonense. Ex-deputado federal, ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso e ex-senador, Virgílio foi um dos líderes do PSDB na oposição ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre 2003 e 2010. Depois de não entrar na disputa eleitoral pelo mandato-tampão no governo do Amazonas, em agosto, e apoiar o governador eleito, Amazonino Mendes (PDT), o prefeito quer ser o candidato tucano à Presidência da República em 2018. Nesta entrevista a VEJA, Arthur Virgílio apresenta, pela primeira vez, sua intenção de entrar na disputa interna, que vinha sendo polarizada pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e seu afilhado político, o prefeito da capital paulista, João Doria.
Quem, para o senhor, deve ser o candidato do PSDB à Presidência da República em 2018? Entendo que eu próprio. É meu terceiro mandato como prefeito de uma cidade complexa como Manaus, onde estamos obtendo surpresas boas. O índice Firjan [da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro] fez uma pesquisa extensa e concluiu que Manaus é a capital mais equilibrada do país no plano fiscal. Na quarta-feira, estive em Curitiba e recebi um prêmio por Manaus ser a quarta cidade do país e a capital com a melhor situação previdenciária.
O senhor já se apresentou como candidato internamente? Quero me apresentar para as prévias do partido, que nunca foram usadas nacionalmente e estão lá para isso. Quero a garantia de que vão me deixar concorrer. Vou debater com outros candidatos, quaisquer que sejam eles, certamente pessoas do meu prezar. Tenho muita expectativa, mais do que na movimentação interna, com a repercussão da disputa na militância e para fora das fronteiras do partido, na sociedade.
Concorda com a definição do candidato tucano até o fim do ano? Deveria haver mais tempo, ou fica um jogo desigual. Acho que tem gente avançando na corrida, correndo antes do tempo, e quem chega atrasado mereceria mais tempo. Prévia não é apenas convocar os diretórios. Prévia é corrermos o Brasil com todos os candidatos – de preferência, juntos, até porque, depois, nos uniremos.
Uma ala do PSDB defende a candidatura do prefeito de São Paulo, João Doria, que ganhou relevância no partido só recentemente e tem viajado pelo país. A candidatura dele ‘furaria’ a fila? Acho que é um direito que ele tem. Eu só não faria campanha agora, porque estaria, de certa forma, faltando ao compromisso com os meus governados de Manaus. Não posso ficar por aí zanzando como candidato. Eu não sairia por aí açodando uma candidatura em tempos de administração. Nossos indicadores são positivos assim porque temos uma equipe que se dedica a administrar.
Seus dois principais adversários seriam o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e Doria. Acredita que eles poderiam sair do PSDB para concorrer à Presidência por outro partido? Não sei. Eu não sairei em nenhuma hipótese, a não ser que o partido apodreça. Aí eu sairia para minha casa, e não para outro partido. Se eu for recusado, não sairei, ou estaria agindo mais individualmente do que pensando no interesse do país.
Quais seriam as bases econômicas de seu governo? O Brasil é um dos países mais estupidamente fechados entre aqueles que disputam protagonismo no cenário econômico internacional. A linguagem tem de ser clara, sem meio-termo. Eu sou liberal, ponto. Sou a favor de privatizar tudo, ponto. Sou a favor de um Estado que fiscalize o que foi privatizado, através de agências reguladoras independentes. Sou a favor da independência do Banco Central, isso será uma bandeira de campanha. Enquanto surpreendêssemos com a novidade e a ousadia, tenho certeza de que ganharíamos crescimento de pelo menos 0,5% ao ano durante cinco ou seis anos.
"Eu sou liberal, ponto. Sou a favor de privatizar tudo, ponto. Sou a favor de um Estado que fiscalize o que foi privatizado, através de agências reguladoras independentes."
Defende, inclusive, privatizar a Petrobras? Para o PT a palavra “mercado” era um crime. Tanto patriotismo em torno da Petrobras e fizeram o que fizeram. Depois do governo deles, chegou a sair de moda discutir se a Petrobras deveria ser privatizada ou não. Eu acho que deveria. Mas quem quer a Petrobras do jeito que eles entregaram? Serviria a quem comprar? Perdeu valor de mercado, está tendo dívidas graves cobradas na Justiça americana e virão notícias de condenações de bilhões de dólares e reais.
Como avalia a reforma da Previdência proposta pelo governo Temer? O Brasil não sobrevive se não fizer uma reforma na Previdência, seguida de uma reforma tributária. Tem muita gente que dribla de todos os jeitos seu medo de falar de reforma previdenciária. Temos que falar com dicção forte sobre todas as reformas. O Brasil precisa de um presidente que diga: eu me elegi porque me tornei o mais popular, mas não hesitarei em me tornar o mais impopular. Reforma da Previdência tira voto? Então comece tirando voto de mim, porque sou a favor.
Em uma carta a companheiros de partido em julho, o senhor disse que não existe mais a disputa entre PT e PSDB. Quem será o principal adversário do PSDB em 2018? Espero que não seja o PSDB, que nem sempre tem se marcado por coesão e união. Não vejo mais disputa entre PT e PSDB. Considero a coisa mais atrasada do mundo os dois acharem, como se tivessem três anos de idade, que são o centro das atenções.
O senhor acredita que Lula, já condenado na Lava Jato, será candidato? Se ele mantiver os direitos políticos, é natural que seja. Ele está fazendo uma mobilização para criar um fato que seria a defesa prévia dele, que caracterizaria uma perseguição. Lula é um forte candidato a ir muito bem para o segundo turno, mas é um fortíssimo candidato a perder no segundo turno. Se ele é o candidato, respeito todos os meus colegas, companheiros de partido, mas em matéria de Lula eles todos são meus alunos, eu sou o doutor.
Como avalia a candidatura e as chances do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ)? Chance zero. Considero a candidatura legítima. Como cidadão, pode se candidatar, assim como eu, mas não o vejo no segundo turno e não o vejo com 20%. Eu o vejo com uma coisa entre 8% e 10%, um grande registro de descontentamento com a política em geral e setores importantes da população buscando alternativas.
O senhor disse naquela carta que não existe divisão entre “cabeças brancas” e “cabeças pretas” no PSDB. A decisão de ficar no governo e a votação da primeira denúncia contra Temer não racharam o partido? Não vejo que haja uma divisão consolidada. Os problemas tinham que ser mais discutidos, mais apurados. As pessoas dizem: “eu sou contra o apoio ao governo do presidente Temer, mas sou a favor das reformas”. Vejo nisso uma contradição brutal. A melhor forma de boicotar a reforma é enfraquecer quem a está promovendo.
Há algum consenso em torno do futuro presidente do PSDB? Fala-se no nome do governador de Goiás, Marconi Perillo. Não saberia dizer hoje, mas vejo como um grande nome o Perillo e Tasso como um excelente nome. São pessoas que têm vidas públicas de muitas realizações. Perillo mudou a face econômica de Goiás para melhor, e Tasso mudou a do Ceará. São escolhas maduras, que permitem um espaço de crescimento ao partido.
O que o senhor achou do programa de TV do PSDB em que admite erros e defende o parlamentarismo? Polêmico. Não sei se eu faria se estivesse lá e se concordaria se tivesse sido consultado – não fui. Mas não vejo nenhum programa que impacte muito, o povo não vê com bons olhos nenhum partido. Defender o parlamentarismo é nosso dever. Só há uma nação presidencialista rica, os Estados Unidos, que tem um Congresso forte e que se dá ao respeito, diferentemente do que vemos no nosso Congresso hoje. Há nações parlamentaristas que não são desenvolvidas, mas, com a exceção dos Estados Unidos, todas as outras nações desenvolvidas são parlamentaristas.
O senhor participou da discussão sobre o programa? Não fui chamado nem para isso nem para uma reunião que fizeram em São Paulo, esqueceram meu nome. Eu sou ciumento quando certas coisas acontecem no partido e não me consultam. Entendo que há poucos tucanos que têm tantos serviços prestados ao partido como eu prestei.
"Se ele [Lula] é o candidato, respeito todos os meus colegas, companheiros de partido, mas em matéria de Lula eles todos são meus alunos, eu sou o doutor."
Naquela mesma carta ao partido, o senhor declarou que havia uma tentativa de interromper o mandato de Michel Temer “sem provas concretas de crime”. Como interpreta o episódio da mala entregue a Rodrigo Rocha Loures? Achei que, primeiro, a cena é bizarra, o sujeito correndo com a mala. Mas daí a você provar que a mala era dirigida a um presidente, que se quisesse delinquir não seria através do Rocha Loures, nem com aquela quantia... Não acho que tenha sido uma situação cômoda para o presidente, mas certas coisas precisam realmente ser comprovadas, porque se trata de trocar um presidente da República.
Como o senhor avalia a atuação do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot? Vejo que o doutor Janot errou a mão. Tenho muito respeito por ele, mas parece que os últimos acontecimentos não fortaleceram a posição dele. Se o episódio Rocha Loures é desagradabilíssimo, é difícil ele [Janot] explicar o episódio de se sentar em um botequim com um advogado de um criminoso como Joesley Batista, que ganhou férias em Nova York e não usou tornozeleira eletrônica por um dia sequer. Mas devemos muito a Janot e ao doutor Sergio Moro, porque, exageros à parte, sai um novo Brasil, em que todos, cada vez mais, serão considerados iguais perante a lei.
O que a eleição suplementar ao governo do Amazonas, em agosto, prenuncia para as eleições gerais do ano que vem em termos de comportamento do eleitor? No Amazonas, o vencedor teve 33% dos votos e o perdedor, 23% dos votos. Brancos, nulos e os que se abstiveram somaram 44%. O eleitor que sai da sua casa e vota branco e nulo está votando com clareza. Não sei se o Amazonas vai se repetir, gostaria muito que não, isso vai depender muito do comportamento dos agentes políticos.
Qual seria o sistema eleitoral ideal e o de financiamento de campanhas? Para mim, o melhor sistema eleitoral é o distrital misto, que dá espaço a candidatos de distritos, que trabalham em suas regiões, e àqueles que têm vocação nacional. Quanto ao financiamento, todo mundo entende que a moralização está em não recorrer a empresas privadas. Poxa, então não precisam ser essas que estão aí estigmatizadas e investigadas, podemos recorrer a outras. É muito mais legítimo estabelecer limites às doações, para ficar caracterizado que não há vínculo entre interesses maiores e a contribuição.
Foto: Ivan Pacheco/VEJA