George Lucas disse diversas vezes que Star Wars nada mais é que a história de uma família — com elementos políticos e de ficção científica em torno. O cineasta chegou a afirmar que tudo seria um “novelão” sobre pai, filhos e netos. Contudo, o folhetim mexicano parece estar com os dias contados. Os próximos episódios da saga cinematográfica devem descentralizar o roteiro do clã Skywalker e dar mais atenção a novos personagens e acontecimentos gerais. Prova disso é o livro Star Wars: Marcas da Guerra, assinado por Chuck Wendig, lançado no Brasil em novembro pela editora Aleph.
Entre dezenas de obras que constituem o universo expandido da saga — com livros, séries, quadrinhos e videogames, que se propõem a completar as lacunas deixadas pelo cinema — o texto de Wendig se destaca como o início da trilogia do cânone oficial que ligará os antigos filmes aos novos. Funciona assim: quando a Disney comprou a Lucasfilm, o universo expandido era um tremendo balaio de gatos com inúmeras histórias do passado e futuro da saga. A empresa do Mickey Mouse zerou tudo e transformou estes produtos anteriores em “lendas”, ou seja, podem ou não ter ocorrido, e talvez, quem sabe, sejam vistos em novos longas. A ação deu ao estúdio liberdade para criar, sem ficar preso à literatura já lançada. Assim, todo novo produto aprovado pela Disney, que vai se relacionar com os próximos filmes, se torna parte do chamado cânone oficial.
Por isso a importância de Marcas da Guerra. A obra, a primeira de uma trilogia, conta o que aconteceu logo após o sexto episódio cinematográfico, O Retorno de Jedi. O segundo livro está previsto para chegar ao Brasil em 2016, enquanto o terceiro ainda não foi escrito. A promessa é que eles apresentem todos os acontecimentos relevantes das décadas que separam o filme de 1983 do novo, O Despertar da Força.
Ao longo das páginas, o escritor apresenta personagens desconhecidos, vasculha um planeta remoto, e narra o que seria a retomada do poder político pelos rebeldes, já que a morte de Darth Vader e do Imperador Palpatine não foram suficientes para derrubar por completo o Império. Quem espera ver nas páginas o trio principal (Leia, Luke e Han) em ação, pode diminuir as expectativas. Os heróis são citados brevemente e começam a perder espaço para outras tramas. “Ao escrever o livro, eu sabia de algumas coisas do novo filme”, diz Wendig ao site de VEJA. “Eu tinha um material como ponto de partida e dicas do que eu deveria colocar no texto para que haja uma conexão com os longas. Tudo ficará mais claro e fará sentido quando o filme for lançado”, conta.
Antes da série de Wendig, batizada de Aftermath, os livros aclamados como continuação da saga eram os assinados por Timothy Zahn: a trilogia Thrawn. Ambientada cinco anos após O Retorno de Jedi, a história acompanha a fundação da Nova República e as lutas dos rebeldes para estabelecer o novo sistema político. Leia e Han se casam e têm filhos, assim como Luke, que conhece sua esposa. Os pequenos herdeiros iniciam o treinamento Jedi. A trama foi tratada como oficial até a compra da Lucasfilm pela Disney. Ainda não se sabe quanto do texto de Zahn pode influenciar os filmes futuros.
Para além de livros de ficção, a literatura de Star Wars também rendeu guias e manuais, caso do calhamaço de 600 páginas de Chris Taylor, Como Star Wars Conquistou o Universo (Aleph). No livro, o jornalista inglês destrincha a história de George Lucas e sua obra com riqueza de detalhes e curiosidades saborosas.
Confira abaixo uma entrevista exclusiva com Taylor e suas opiniões sobre o futuro da saga:
Por que 'Star Wars' se tornou um capítulo tão importante na história do cinema?
São muitas as razões. Entre elas estão os efeitos especiais, inéditos até então, e o roteiro com uma história simples, com linhas que dividiam o bem e o mal em plena década de 1970, quando a ambiguidade moral dominava o cinema, caso de filmes como Taxi Driver (1976) e Chinatown (1974). Também foi o primeiro longa com um marketing direcionado para os fãs de ficção cientifica e fantasia, que impulsionou feiras como a Comic Con de São Diego. Nenhum filme tinha feito isso antes.
O que te fascina em relação à trama?
Acho incrível o efeito que Star Wars causou na política americana. Existe um grande palpite de que a mensagem do filme ajudou Ronald Reagan a se eleger, apesar de ele ser completamente oposto ao que George Lucas pregava. Quando a Iniciativa de Defesa Estratégica foi apelidada pelos democratas, ironicamente, de Star Wars, em 1983, Reagan abraçou o nome, pois era um bom marketing.
Quem é personagem mais importante da saga?
R2-D2, pois é o único que está nos seis filmes e que se lembra de tudo – C3PO também está em todos, mas a memória dele foi apagada no Episódio III. George Lucas disse que toda a história está sendo contada pelo olhar de R2.
O que o sétimo episódio significa para você?
Significa que Star Wars está de volta. É imortal. Que a ideia que nasceu com George Lucas pode mudar de geração através de outros olhos, agora com J.J. Abrams.
Hollywood mudou muito desde a década de 1970, quando o primeiro filme foi lançado. Acredita que a nova trilogia vai conseguir alcançar os mesmos feitos do passado?
Sim, pois a qualidade caiu muito com a última trilogia (os Episódios I, II e III). Os fãs se lembram como estes três filmes foram ruins e o medo é que o sétimo capítulo também seja. Por isso, se o novo longa for simplesmente bom, já ficaremos felizes.
Livro que abre a trilogia Thrawn, de Timothy Zahn, narra os acontecimentos na galáxia logo após O Retorno de Jedi.
Assinado por John Jackson Miller, o livro preenche a lacuna do período em que o mestre Jedi ficou exilado em Tatooine.
Livro de Troy Denning se passa 40 anos após O Retorno de Jedi e traz a última aventura do trio Leia, Luke e Han Solo.