O recente lançamento de cinco imagens alternativas ao botão do Facebook, para expressar emoções como , e , coroa a popularização dos emojis – como são conhecidas as carinhas, mãozinhas, corações e outros sinais usados em mensagens de texto. Por seu poder de síntese, esses símbolos enriqueceram o léxico das conversas eletrônicas e se fixaram como legítimo recurso de "paralinguagem", como os linguistas se referem ao repertório de elementos não-verbais da comunicação. Se não valem por mil palavras, os emojis podem muito bem substituir um punhado de vocábulos, evitar mal entendidos, abreviar a conversa e arrematar qualquer mensagem.
O britânico Daniel Allington, professor de cultura digital da Universidade do Leste da Inglaterra (UWE Bristol), explica que os emojis podem ser comparados à linguagem corporal, às expressões faciais e a outros recursos capazes de reforçar uma mensagem qualquer, como elevar o tom de voz. "Quando conversamos pela internet usando apenas o texto, abrimos mão dos recursos paralinguísticos", afirma o especialista de 39 anos, autor de artigos acadêmicos sobre os emojis e de livros na área da comunicação. "Desenhos de uma carinha sorrindo, de um abraço ou aperto de mãos permitem complementar a comunicação verbal, e as pessoas perceberam isso."
Recursos de paralinguagem são intensamente explorados desde a infância. "Mesmo crianças muito pequenas, que conhecem poucas ou até nenhuma palavra, podem fazer sua voz soar feliz, triste ou raivosa ou transmitir essas emoções com suas expressões faciais e gestos simples", observa Allington. "Quando nos comunicamos por , perdemos as formas visuais da paralinguagem. Quando nos comunicamos por , perdemos toda forma de paralinguagem. Em textos formais, como no caso de um contrato, isso é uma boa coisa, porque é preciso evitar ambiguidades. Mas não é nada confortável falar com os amigos em termos técnicos. Queremos sorrir para eles, fazer piadas ou dar indiretas."
O avô dos emojis foi criado justamente para fazer piadas, dar indiretas e evitar mal entendidos. Em 1982, despretensiosamente, o americano Scott Fahlman, que desde 1978 é professor e pesquisador da área de linguagens digitais e de ciência da computação na Universidade Carneggie Mellon, nos , sugeriu aos colegas o uso de dois códigos no quadro de avisos da rede de comunicação doméstica da faculdade: um para mensagens irônicas, outro para recados sérios. Nasciam ali os primeiros emoticons :-) e :-(.
Emoticons, que em inglês é a junção das palavras “emoção” e “ícone”, são sinais criados a partir dos caracteres do teclado - letras, números e pontuação. Os emojis, termo que em japonês significa “pictograma”, são pequenas figuras, ou ideogramas, inventados no final dos anos 1990 por um funcionário da empresa telefônica japonesa NTT DoCoMo, tendo por referência personagens de mangás e outros elementos da cultura nipônica. As imagens chegaram aos pagers, se multiplicaram com a difusão dos primeiros celulares e acabaram se impondo, ao longo dos anos, a todo tipo de plataforma e aplicativo de comunicação eletrônica. Em entrevista ao site de VEJA, Fahlman diz preferir ainda hoje os emoticons, porque exigem capricho e criatividade na combinação de caracteres, mas admite que sua opinião pode estar enviesada. "Obviamente, os usuários mais jovens discordam de mim." De fato : muitos sistemas já "traduzem" emoticons em emojis, como o GTalk, Facebook Messenger e iMessages. Assim, basta escrever o emoticon :-) para que o interlocutor receba .
O sucesso dos emojis coincide com a universalização do e dos aplicativos de troca de mensagens. Das gigantes do Vale do Silício, a Apple saiu na frente em 2011 e abasteceu o teclado do iPhone com uma farta coleção de figurinhas, sem que o usuário precisasse instalar qualquer aplicativo. Google e Microsoft seguiram o mesmo caminho.
Não demorou para que os emojis fossem explorados pela cultura pop. Em 2013, a cantora Katy Perry lançou um inusitado clipe, do single Roar, quase todo "legendado" por carinhas. No mesmo ano, a Biblioteca do Congresso Nacional dos Estados Unidos acolheu uma amalucada tradução de 'Moby Dick', o clássico do escritor americano Herman Melville, para o idioma emoji – provando que a paralinguagem também pode ser usada para embaralhar o sentido das palavras. Em 2015, a socialite americana Kim Kardashian lançou o aplicativo Kimoji com uma gama especial de ilustrações de si mesma . O sucesso foi tão grande que a App Store, loja de aplicativos da Apple, ficou congestionada e apresentou problemas devido ao grande número de downloads.
Os emojis, como legítimo recurso de comunicação, provaram ser mais do que uma simples febre. Em 2014, a palavra mais usada foi justamente o emoji do coração vermelho , conforme levantamento da Global Language Monitor, instituição que analisa tendências na área da comunicação. No ano passado, foi a vez do conceituado dicionário britânico Oxford escolher a carinha “chorando de rir” como a palavra do ano - nos anos anteriores as palavras “selfie” e “GIF” foram as escolhidas.
O professor de linguística da Universidade da Califórnia, Neil Cohn, especialista em comunicação visual, acredita que o triunfo da língua franca dos emojis é fruto de seu poder de síntese. Mas lembra que os emojis, por mais populares que se tornem, têm limitações como linguagem sequencial: produzem maior sentido quando são combinados ao texto.
Allington aposta que os emojis continuarão prestando bons serviços à comunicação online nos próximos anos. "Eles serão usados de forma ainda mais frequente no futuro, pois conseguem captar experiências e expressões de uma conversa pessoal. Isso acaba aproximando as pessoas", explica. "E é divertido."