Nadia Comaneci (Montreal, 1976)

Enfim, uma apresentação perfeita

 

Um dos esportes olímpicos mais tradicionais (está nas Olimpíadas desde a primeira edição da era moderna, em Atenas, em 1896), a ginástica artística é também uma das mais precisas na atribuição das notas. Os juízes são muito rígidos e não hesitam em retirar pontos (ou décimos ou mesmo centésimos) diante do mínimo deslize durante uma apresentação. Foi por isso que muitos se surpreenderam quando o placar do ginásio de Montreal anotou 1,0 após uma brilhante exibição da romena Nadia Comaneci em 18 de julho de 1976. "Não entendi o que aconteceu", contou mais tarde a jovem de apenas 14 anos. "Estava frustrada porque pensava que merecia mais do que uma nota 1."

 
 

GRAÇA - Na trave de equilíbrio, foto com múltipla exposição mostra o movimento da ginasta

Merecia mesmo. O fato é que nunca havia acontecido o que se viu naquela tarde: uma apresentação perfeita, digna de uma nota 10. E é por isso que o placar nem sequer tinha espaço para dois algarismos antes da vírgula - o máximo esperado era 9,7 ou 9,8. O espanto prosseguiu nos três dias seguintes, quando a menina de corpo mirrado surpreendeu as favoritíssimas soviéticas, tirou 10 outras seis vezes, levando para casa uma medalha de bronze, uma de prata e três de ouro (barras assimétricas, trave de equilíbrio e na competição individual geral), e colocou para sempre seu nome entre os gigantes do esporte mundial em todos os tempos.

 
 

COLEÇÃO - Ao final das disputas na ginástica, três medalhas de ouro, uma de prata e uma de bronze

Considerada a "maior recordista da ginástica" pela Academia Mundial de Recordes, Nadia batizou um dos movimentos que inventou. O "salto Comaneci" é, até hoje, considerado um dos mais complexos pela Federação Internacional de Ginástica. Durante um treino com Bela Karolyi, ela cometeu um erro - mas o movimento ficou tão gracioso que virou uma de suas marcas registradas. Na barra mais alta das assimétricas, ela lança o corpo para o alto, solta as mãos e dá uma cambalhota para a frente, voltando a agarrar-se na barra.

O salto Comaneci

Nos anos 1970, em meio às tensões políticas da Guerra Fria, Nadia virou uma estrela internacional, capa de inúmeras revistas, mas não tinha liberdade para entrar e sair de seu país e só participava das competições que interessavam ao governo de Nicolae Ceausescu (ditador que assumira o poder em 1965). Chegou a ser levada ao hospital depois de beber xampu, no que os jornais da época chamaram de tentativa de suicídio, apesar de Nadia negar essa versão até hoje. Acabou desertando para os Estados Unidos em 1989, pouco antes da queda do Muro de Berlim e da própria morte de Ceausescu, deposto e assassinado em 25 de dezembro daquele ano. Aos 53 anos, Nadia Comaneci é uma das maiores referências da ginástica.

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