A PRAIA
É NOSSA

Quem são os atletas brasileiros com boas chances de subir ao pódio

Kahena Kunze e Martine Grael

25 anos vela

Será preciso bem mais do que um forte e inesperado vento sudoeste para tirar do prumo a dupla de velejadoras da classe 49er FX. A paulistana Kahena e a niteroiense Martine, amigas desde os 13 anos, parceiras no esporte há sete, foram campeãs mundiais em 2014 e são as atuais líderes do ranking internacional. Elas conhecem tão bem o local de provas da Olimpíada que Martine, filha do multimedalhista Torben Grael, descobriu uma alternativa ao trânsito caótico do Rio. Se precisa sair de Niterói, onde sua família fincou raízes, para um compromisso no Rio (como esta sessão de fotos, na Praia de Botafogo), ela prefere cruzar a Baía de Guanabara a remo, em cima de uma prancha de stand-up paddle. Mais carioca, impossível.

A praia estava cheia de um vento bom, de uma liberdade. E eu estava só. E naqueles momentos não precisava de ninguém.

Clarice Lispector

Marcelo Melo e Bruno soares

32 e 34 anos TêNIS

Em praia de mineiro não pode faltar o quê? Se depender de Marcelo (à esq.) e Bruno, nascidos em Belo Horizonte, a raquete (de frescobol) é indispensável. Embora já tenham formado dupla fixa por dois anos, disputam em separado os principais torneios mundiais, cada um com seu par — costumam se reunir apenas para as partidas da Copa Davis. A distância relativa fez bem a ambos: ao lado do croata Ivan Dodig, Marcelo venceu Roland Garros em 2015 (e terminou o ano como o número 1 do mundo de duplas). Bruno conquistou o Aberto da Austrália, em janeiro deste ano, com o britânico Jamie Murray. Em 2012, nos Jogos de Londres, eles caíram nas quartas. Agora, o garimpo que lhes interessa é o do ouro.

Mar de mineiro é inho / mar de mineiro é ão / mar de mineiro é vinho / mar de mineiro é vão / mar de mineiro é chão / mar de mineiro é pinho.

CaCASO

Rafael Silva

29 anos judô

Para o imenso judoca sul-mato-grossense, com 2,03 metros e 165 quilos, medalhista de bronze há quatro anos, em Londres, o apelido Baby poderia soar como zombaria. Ele acha graça, ri e alimenta a brincadeira. “As crianças gostam”, diz. Bem-humorado, Rafael não vacilou um segundo em posar para este ensaio como vendedor de mate e biscoitos Globo, duas marcas registradas das praias cariocas.

Pois ser carioca (...) é ter como único programa o não tê-lo; (...) é dar mais importância ao amor que ao dinheiro.

Vinicius de Moraes

Ana Marcela cunha

24 anos maratona aquática

Para o treinador da nadadora baiana, Marcio Latuf, são três os motivos para acreditar no ouro de sua protegida: 1) Ana Marcela adora nadar em mar aberto (em Pequim e Londres, as competições foram realizadas em lagos); 2) ela sempre teve bom desempenho em águas geladas (a temperatura do mar em agosto pode ficar abaixo dos 20 graus); e 3) conhece o local da prova, ao lado do Forte de Copacabana, tão bem quanto os melhores salva-vidas do Rio.

Aline Silva

29 anos luta olímpica

O poema do maranhense Ferreira Gullar que aparece no pé destas páginas estampa a parede de um dos quartos na casa da paulistana, a única atleta brasileira da luta olímpica a conquistar uma medalha em campeonato mundial. Com 1,77 metro e 75 quilos, sorriso aberto, ela se habituou a treinar no tatame com o marido, 10 quilos mais pesado, por falta de adversárias no horizonte brasileiro.

Dizem que, se a noite é feia, / qualquer um pode escutar / o touro a correr na areia / até se perder no mar.

FERREIRA GULLAR

Gabriel Jesus

19 anos futebol

Muito provavelmente, depois da Olimpíada, a joia forjada no Palmeiras estará na Europa, em algum grande clube da Itália, Espanha ou Alemanha. O tão cobiçado ouro servirá de passaporte para o jogador trilhar o mesmo caminho de sucesso do companheiro de ataque na seleção, Neymar. O palmeirense conta com uma imensa vantagem em relação ao ex-santista: por ainda não haver disputado torneios pela seleção principal e permanecer razoavelmente longe da ribalta, não tem o mundo sobre os ombros.

Marcelinho Huertas

33 anos basquete

Há doze anos vivendo fora do Brasil, inicialmente na Espanha e depois nos Estados Unidos, o armador paulistano, hoje no Los Angeles Lakers, da NBA, conquistou o direito de ostentar a faixa de capitão da seleção dirigida pelo argentino Rubén Magnano. A barba ruiva e o vermelhão adquirido recentemente no sol de inverno, fazendo lembrar um turista perdido, deram origem a apelidos em sua roda de amigos: Coalhada e Requeijão são os mais populares.

É tão perto do Rio a Paris! Assim é na verdade, mas acontece que raramente vamos sequer a Niterói.

Rubem BRAGA

Bruninho

30 anos vôlei

O pai é Bernardinho. A mãe, Vera Mossa. Ser jogador de vôlei, portanto, estava no DNA do levantador titular do Brasil. A posição é que não foi definida logo de cara. Até os 14 anos, Bruninho queria ser ponteiro, atacar. A estatura não permitiu. Com “apenas” 1,90 metro, perderia espaço entre os gigantes da quadra. Foi então que um técnico da adolescência sugeriu a mudança. Funcionou. Distribuindo o jogo, Bruninho tornou-se um dos melhores em sua posição: campeão mundial e duas vezes medalhista de prata em Olimpíadas.

Diego e Daniele Hypolito

30 e 31 anos ginástica

Por quase duas décadas o sobrenome Hypolito foi sinônimo de ginástica no Brasil. Desde os Jogos de Sydney, em 2000, ao menos um dos irmãos representou o país nas Olimpíadas. As piruetas e estripulias de criança, aprimoradas no quintal da casa dos avós José e Encarnação, em Maringá (PR), e alimentadas no Rio, à beira-mar, levaram ambos a uma carreira de sucesso. Foram seis participações olímpicas: duas de Diego (2008 e 2012) e quatro de Daniele (de 2000 a 2012), e seis medalhas em Mundiais (duas douradas para ele). Hoje, já não são unanimidade no esporte. Diego promete bom desempenho no solo. Daniele muito dificilmente levará medalha, com apresentação ao som do funk de Anitta. Mas ela se orgulha de ter aberto a avenida para o campeão olímpico de 2012 nas argolas, o paulista Arthur Zanetti.

A rua nasce, como o homem, do soluço, do espasmo. Há suor humano na argamassa do seu calçamento.

João do Rio

Mayra Aguiar

24anos judô

Rivalidade, substantivo feminino. Nenhuma outra palavra define melhor a relação entre a judoca gaúcha e sua nêmesis, a americana Kayla Harrison. Há seis anos, as duas se revezam na liderança da categoria de até 78 quilos. Em Londres 2012, Kayla venceu Mayra na semifinal olímpica, a caminho do ouro. A brasileira levou o bronze. No placar histórico, a vantagem pende a favor da americana: 9 a 8. No Rio, teremos o capítulo final da contenda. Depois dos Jogos, haverá cessar-fogo. Kayla ensaia migrar dos tatames para o octógono e seguir carreira na pancadaria do MMA, com a facilidade de quem faz castelos de areia à beira-mar.

Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram, mas a areia é quente, e há um óleo suave que eles passam nas costas, e esquecem.

CARLOS DRUMMOND de Andrade

Larissa

34 anos vôlei de praia

O vôlei de praia faz parte do programa olímpico há cinco edições. Em todas elas, o Brasil esteve no pódio. Em 2012, a capixaba Larissa levou o bronze nos Jogos de Londres, coroando parceria de dez anos com a santista Juliana. Agora pisará na areia de Copacabana com a sul-mato-grossense Talita. Pressão pela vitória? “Acho legal ser cobrada, gosto de jogar assim”, diz. No ano passado, ela foi eleita a melhor jogadora do mundo.

Na linguagem do carioca, ‘pois não’ quer dizer ‘sim’, ‘pois sim’ quer dizer ‘não’.

Fernando Sabino

Yane Marques

32anos pentatlo moderno

Jogar esgrima, nadar 200 metros, saltar a cavalo e, no fim de tudo, correr 3 000 metros. E não basta correr. A cada 1 000 metros, é obrigatório interromper a corrida, empunhar uma pistola a laser e acertar cinco tiros no alvo. Tudo isso em um só dia, uma prova seguida da outra. Esse é o périplo de cada pentatleta em busca de uma medalha. Há quatro anos, Yane surpreendeu o Brasil, no último dia de competição, com o bronze. A pernambucana de Afogados da Ingazeira, lá onde o mar vira sertão, quer repetir o feito. E avisa: “Agora sou uma Yane melhor”. Ninguém duvida.

Thaisa

34 anos vôlei

A meio de rede carioca conta a passagem do tempo e as vitórias por meio de marcas em seu longuíssimo 1,96 metro de altura. Ela tem 21 tatuagens espalhadas pelo corpo. As que mais chamam atenção estão nos antebraços: cada um deles exibe a logomarca das Olimpíadas nas quais a jogadora conquistou a medalha de ouro (Pequim 2008 e Londres 2012). Outros sinais não se fazem notar tanto — é o caso das duas cicatrizes cirúrgicas em seus joelhos, ambos operados no ano passado. Recuperada, a garota de Campo Grande, Zona Oeste do Rio, mira um só objetivo: adicionar uma nova tatuagem à coleção.

Ser brotinho é poder usar óculos como se fosse enfeite, como um adjetivo para o rosto e para o espírito.

Paulo Mendes Campos

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