Capitão América: Guerra Civil

Marvel dividida

Guerra que marca a separação política entre heróis nos quadrinhos agora promete mudar o rumo da história dos personagens no cinema

Capitão América

Herói americano

Personagem que conquistou fama durante a II Guerra Mundial se mantém popular ao encarnar o centro da moral do universo Marvel


Por Rafael Aloi

Em plena II Guerra, Joe Simon e Jack Kirby conceberam a ideia de um herói patriótico. Nasce o Capitão América, que fez seu début nas HQs em 1941 e teve um forte peso na propaganda política da época. “Sua missão era reafirmar que os EUA estavam do lado certo”, diz Arnold T. Blumberg, professor de HQ da Universidade de Baltimore.

Detalhe da capa da revista número 1 do Capitão América, criado por Joe Simon e Jack Kirby (Dedoc)

Seu nome é Steve Rogers, filho nova-iorquino de um casal de imigrantes irlandeses. O rapaz tenta se alistar no Exército várias vezes, mas é rejeitado por seu porte nanico. Insistente, ele é escolhido para ser cobaia de um experimento do doutor Abraham Erskine, o criador do soro do Supersoldado, que transformou Rogers, concedendo-lhe um corpo perfeito e colossal.

Apesar de não possuir poderes, o Capitão América reúne as qualidades que um humano poderia ter, elevadas a sua máxima potência, como força, resistência e agilidade. Rogers também se tornou imune a todo tipo de doença, não pode ser envenenado, nem consegue ficar bêbado. O herói possui um escudo feito de vibranium (metal fictício indestrutível) usado como arma.

Capitão América (Chris Evans) e Soldado Invernal (Sebastian Stan) em 'Guerra Civil' (Zade Rosenthal/ Marvel)

Os membros do Eixo (alemães, japoneses e italianos) foram os primeiros vilões a enfrentar o herói. Ele encara o arqui-inimigo Caveira Vermelha, agente nazista de alto intelecto, treinado pelo próprio Hitler. O primeiro filme do Capitão América no cinema, de 1990, traz a batalha entre os dois.

Com o fim da guerra, o personagem perdeu popularidade e seus gibis foram descontinuados. Nos dias finais, Capitão tenta interceptar um avião e afunda com a aeronave nas águas do Ártico, sendo declarado morto. Rogers ressuscita nas HQs em 1964, na quarta edição de Os Vingadores, quando seu corpo é encontrado congelado, mas vivo.

Equipe do Capitão América no filme 'Capitão América: Guerra Civil' (Divulgação)

Ele se torna o líder do grupo e também o centro da moral do universo Marvel. Embora seus oponentes sejam muitas vezes personificados por inimigos históricos dos Estados Unidos, como os comunistas e terroristas, por vezes também são os próprios líderes do país.

Por exemplo, em 1970, pós-Watergate e Vietnã, o herói tem uma crise de fé política, abandona seu uniforme e vaga pelo país com o nome de Nômade, em uma tentativa de descobrir o que ainda resta do país para amar. Essa crise é ressuscitada durante a HQ Guerra Civil, publicada em 2006.

Homem de Ferro

O playboy que vira herói

Durante a Guerra do Vietnã, Marvel transforma um empresário da indústria armamentista no personagem mais popular do selo


Por Rafael Aloi

Em 1963, Stan Lee, junto com o seu irmão Larry Lieber e os ilustradores Don Heck e Jack Kirby, criou o Homem de Ferro, alter ego de Tony Stark, um homem muito inteligente, que herdou um império da indústria de armamentos. A escolha era arriscada. Em uma época que pipocavam protestos contra a Guerra do Vietnã, um playboy capitalista seria um bom herói?

As muitas armaduras do Homem de Ferro nos quadrinhos (Marvel)

“O Homem de Ferro surgiu carregado com questões sociopolíticas. É um membro da elite masculina branca, cuja carreira foi baseada na fabricação de armas e devoção às instituições. Ele é forçado a reavaliar seu ego e o que importa no mundo. É uma história de renascimento e redenção, adequada tanto para 1960 como para hoje”, diz o professor Arnold T. Blumberg.

Na Guerra do Vietnã, Stark é atingido por um estilhaço de granada no peito. Ele é sequestrado pelo vietnamita Wong Chu (no filme de 2008, os inimigos são afegãos) e obrigado a construir uma arma de destruição em massa. No cativeiro, ele conhece Ho Yinsen, físico que o ajuda a construir um exoesqueleto e projeta a placa que mantém o coração do empresário vivo.

Homem de Ferro em 'Capitão América: Guerra Civil' (Divulgação)

Stark foge e, de volta aos EUA, redesenha o traje, cria o Homem de Ferro e afirma que o robô é seu guarda-costas, iniciando uma vida dupla – ele revelaria sua identidade secreta décadas mais tarde, para salvar um cachorro na rua.

O empresário não possui poderes, mas a armadura lhe concede habilidades como força, voo supersônico e raios repulsores. Ela é vulnerável a correntes elétricas de alta intensidade e forças eletromagnéticas. O homem por baixo da armadura é quem possui mais defeitos: é alcoólatra, arrogante e tem caráter duvidoso. A determinação de fazer o bem é o que faz de Stark um herói.

Equipe do Homem de Ferro no filme 'Capitão América: Guerra Civil' (Divulgação)

A primeira versão da armadura era cinzenta e rude. Stan Lee modificou esse visual. A armadura teve a cor alterada para vermelha e dourada e ficou mais anatômica. Com o passar dos anos, a aparência e algumas funções do traje foram modificadas para se adequar às inovações tecnológicas. Nos anos 2000, ela recebeu chips e passou a se conectar com qualquer rede de informações.

Inicialmente, o Homem de Ferro luta contra espiões interessados em roubar segredos militares. Durante a Guerra Fria, enfrenta ameaças comunistas. A crise e o medo das bombas de destruição em massa eram uma temática constante. Com o fim da Guerra Fria, o herói expande sua atuação, encarando vilões variados com os Vingadores e com a agência S.H.I.E.L.D..

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Nos quadrinhos, as desavenças começam após uma batalha entre o vilão Nitro e o grupo de heróis Novos Guerreiros. Em uma ação malsucedida do bando, Nitro causa uma explosão, que mata diversos membros da equipe de heróis e centenas de civis, inclusive crianças em uma escola. A catástrofe faz com que o governo americano tome uma decisão para evitar tragédias desse tipo.

Com a ajuda da agência de espionagem S.H.I.E.L.D, cria-se o Registro dos Super-Humanos. A proposta tem como objetivo fazer com que todos aqueles que possuam superpoderes ou armas de destruição em massa se registrem no governo, revelando sua identidade secreta. Nem todos os heróis aceitam a ideia.

Capa da edição de luxo da HQ ‘Guerra Civil’ (Panini)

O Capitão América, defensor das liberdades individuais, é contra o projeto e prega a independência de cada herói e o direito de manter a identidade protegida. Do outro lado, o Homem de Ferro se posiciona a favor, dizendo que a medida é providencial para garantir a segurança. A discórdia faz com que os dois Vingadores se vejam de lados opostos.

Com a lei, os heróis que se recusam a realizar o registro são considerados fugitivos. Enquanto isso, o Homem de Ferro arregimenta um importante aliado: o Homem-Aranha. O aracnídeo apoia Tony Stark em uma coletiva de imprensa. A presença do herói é importante, já que ele, um dos poucos a manter a identidade sob sigilo, tira a máscara e se revela como Peter Parker.

Stark chega a desenvolver uma nova roupa de ação para o amigo. Além de mais moderna, a vestimenta traz acesso à internet e o acréscimo de três braços metálicos, que saem das costas do herói.

Homem-Aranha ganha roupa tecnológica nos quadrinhos de ‘Guerra Civil’ (Marvel)

Alguns heróis que aparecem nos quadrinhos vão ficar fora do filme, por questões contratuais. Os membros do X-Men, por exemplo, não serão uma ausência tão notável, já que o grupo não toma lado na disputa. Já o Quarteto Fantástico fará mais falta, uma vez que o Senhor Fantástico é quem constrói a prisão da Zona Negativa, onde os heróis fugitivos são presos.

Na HQ, a trama muda de rumo quando Stark cria um clone bizarro de Thor e aceita o reforço de vilões em seu time. Homem-Aranha, infeliz com as atitudes do Homem de Ferro, se alia ao grupo do Capitão América.

Uma luta final acontece em Nova York, que, claro, resulta numa imensa destruição ao redor e na morte de inocentes. Prestes a vencer, o Capitão América analisa o estrago do conflito e vê que a luta está com o sentido deturpado, prejudicando inocentes e pondo heróis uns contra os outros. Ele então tira sua identidade secreta e se rende.

A cena icônica dos quadrinhos, em que Capitão América se protege dos raios de Homem de Ferro, também fará parte do filme (Marvel)

Galeria de fotos

O filme do ano

Nova produção da Marvel é uma das mais esperadas de 2016 e reúne heróis até então separados no cinema. Confira imagens:

Equipe do Capitão América no filme 'Guerra Civil' (Divulgação)

Homem-Aranha ficará do lado de Tony Stark (Reprodução)

Homem de Ferro (Robert Downey Jr) no filme 'Guerra Civil' (Divulgação)

O vilão Ossos Cruzados/ Brock Rumlow (Frank Grillo) em 'Guerra Civil' (Zade Rosenthal/ Marvel)

Equipe dos Vingadores participa do filme 'Guerra Civil' (Divulgação)

Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) no filme 'Guerra Civil' (Divulgação)

Homem de Ferro e Máquina de Combate em 'Guerra Civil' (Divulgação)

Pantera Negra (Chadwick Boseman) no filme 'Guerra Civil' (Divulgação)

Sebastian Stan (Soldado Invernal) e Chris Evans (Capitão América) conversam com os diretores Joe e Anthony Russo nos bastidores de 'Guerra Civil' (Divulgação)

Pôster de 'Capitão América 3: A Guerra Civil' (Marvel/Disney)

Créditos

Edição - Raquel Carneiro
Reportagem - Henrique Castro Barbosa e Rafael Aloi
Revisão - Valquiria Della Pozza
Design e Desenvolvimento - Alexandre Hoshino e Sidclei Sobral

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