‘A Bela e a Fera’, o clássico repaginado

Conto de fadas surgido no século XVIII e eternizado no cinema pela belíssima animação da Disney, de 1991, ganha versão com atores calcada no avanço dos efeitos especiais e na atriz Emma Watson, referência para jovens garotas ao redor do mundo

Era uma vez um príncipe insolente e superficial que vivia em um pomposo castelo. Em uma noite de chuva, uma mendiga idosa busca abrigo no palácio, onde é hostilizada pelo jovem monarca. Mal sabe ele que a mulher é, na verdade, uma jovem e bela feiticeira. Como castigo, ela lança uma maldição que transforma o príncipe em uma criatura de aparência bestial, e todos os serviçais, em objetos. Só o verdadeiro amor pode mudar a terrível magia.

A maldição abre a animação A Bela e a Fera, de 1991, e também a nova versão da Disney com atores de carne e osso – o formato chamado de live-action. Enquanto, na primeira, um desenho em mosaico de vidro apresenta a gênese do feitiço, no longa de 2017 o espectador vê a sequência se desenrolar durante um grandioso baile oferecido pela futura Fera. A mudança é uma das sutilezas que separam e, ao mesmo tempo complementam, as duas produções da Disney.

Quem assume o papel da protagonista na versão repaginada é Emma Watson, que puxa a fila de um elenco estrelado, com nomes como Kevin Kline (o pai, Maurice), Luke Evans (o aristocrata arrogante Gaston), Josh Gad (seu serviçal, LeFou) e Dan Stevens (Fera), além das vozes de Ewan McGregor (como o candelabro Lumière), Emma Thompson (o bule Madame Samovar) e Ian McKellen (o relógio Horloge).

Deslize as setas para ver diferenças entre as cenas do filme de 1991 e o de 2017:

Rastro de sucesso – Se no começo dos anos 1990 a arte de fazer animações ainda não havia passado pelo grande salto dado pela tecnologia na virada do século, hoje o estúdio de Mickey Mouse conta com o melhor na captura de movimentos para criar um candelabro com feições humanas e uma Fera flexível, apesar das pernas de pau e do traje musculoso carregado por Stevens. A técnica evoluiu nos 26 anos que separam os filmes, mas a magia da história, que data de meados do século XVIII, continua intacto.

Emma Watson, a jovem feminista do momento, é a personificação atualizada dos pensamentos da criadora Gabrielle-Suzanne Barbot de Villeneuve, outra figura feminina forte em seu tempo. Quando lançado, em 1740, o romance de Villeneuve que lança no imaginário coletivo as personagens Bela e Fera foi visto como uma crítica ao mercado de casamentos, em que o destino das mulheres era comercializado juntamente com seus dotes. Bela pode e quer escolher por conta própria, embora a virtude a empurre à união com a Fera, à medida que descobre a pureza do monstro. Para ela, importa mais o caráter que a beleza, mais os livros da imensa biblioteca da besta que os vestidos de luxo que ela pode lhe oferecer. Essa essência, a animação e o filme mantêm.

Os livros são, aliás, outro ponto de contato entre Emma Watson e Bela. Na vida real, a atriz distribui obras clássicas em lugares públicos, instigando fãs à leitura.

As ideias que fazem de Bela uma princesa avant-garde ajudaram A Bela e a Fera a se converter em um sucesso de bilheteria na segunda era de ouro de animações Disney, entre títulos como A Pequena Sereia (1989), Aladdin (1992) e O Rei Leão (1994). O filme comandado por Gary Trousdale e Kirk Wise foi a primeira animação a conquistar uma indicação ao Oscar de melhor filme. Ele saiu da cerimônia com duas estatuetas, de música original e melhor trilha, e só não levou a de melhor animação pois, afinal, a categoria só viria a existir em 2001. O longa também foi pioneiro ao somar mais de 200 milhões de dólares, valor nunca antes arrecadado por um desenho — ajustado à inflação, a quantia beira atualmente os 400 milhões. Do cinema, a história foi para os palcos da Broadway, onde passou treze anos em cartaz.

Ao relançar a história, a Disney almeja uma reprise em performance. Mas, se a animação consumiu 25 milhões de dólares para ser produzida e faturou oito vezes mais, o filme com Emma Watson sai de uma base bem mais alta. Ele está orçado em 160 milhões, montante a que se soma uma quantia semelhante, gasta em distribuição e marketing. O esforço de cerca de 300 milhões de dólares foi conduzido pelo diretor Bill Condon (Dreamgirls e A Saga Crepúsculo – Amanhecer), que conseguiu pincelar novidades, como novos números musicais e complementos narrativos, sem desrespeitar a fórmula de sucesso cravada em 2D.

Reportagem: Raquel Carneiro
Edição: Maria Carolina Maia
Fotos e vídeo: Divulgação
Design e programação: Alexandre Hoshino, André Fuentes e Sidclei Sobral